segunda-feira, 21 de julho de 2014

ESCOLHAS

           
          Uma vez o filósofo Jean Paul Satre disse: “Viver é isto: ficar se equilibrando, o tempo todo, entre escolhas e consequências”.
Realmente, todos os dias fazemos escolhas, sejam elas do nosso dia-a-dia como o que vestir, o que comer e beber, onde ir, com quem ir etc. Bem como fazemos escolhas que não necessáriamente nos damos conta, como por exemplo, “por que escolhi esse caminho e não aquele outro”, “mais uma vez escolhi a pessoa errada”, “por que será que sempre estou escolhendo errado, tomando decisões equivocadas e com isso me prejudicando” ou ainda quando repetimos escolhas até certo ponto conscientes: “não entendo o motivo de ter escolhido vir até esse lugar sendo que eu já sabia que iria me fazer muito mal”, “por que ainda insisto em procurar tal pessoa sabendo que ela vai me fazer mal” etc.
            Inclusive, impulsos ou ideias incompatíveis podem existir simultaneamente sem parecer contraditórios. Aceitamos que amor e ódio se expressem ao mesmo tempo, sem que haja discordância. Queremos algo e ao mesmo tempo a rejeitamos e não sabemos explicar o motivo de agimos dessa maneira. Tudo isso acontece por conta do “estranho que vive em nós”, a instância chamada inconsciente, esse “conhecido/desconhecido” de todos nós.
            Nosso inconsciente é compensatório, está sempre buscando o equilíbrio, da mesma maneira que nosso corpo procura a homeostase. Dessa forma, se estamos constantemente ignorando algo em nossa vida, ele (inconsciente) vai providenciar uma “saia justa”, para que dessa forma possamos refletir como venho  conduzindo minha vida. Sendo assim, uma das maneiras que nosso inconsciente encontra para “chamar nossa atenção”, para que possamos refletir e prestar atenção no que é relevante para a nossa vida (além de nossas escolhas), mas que não estamos dando a devida atenção, são também alguns atos falhos (quando por exemplo trocamos nomes), lapsos de memória (esquecemos nomes ou o que pretendíamos dizer), vão na mesma direção, o que está por trás desse equívoco?
            Muitos de meus pacientes me procuram dizendo que tem o “dedo podre”, e por conta disso tentam compreender o que motivou sua escolha equivocada. Talvez a melhor maneira de refletir seria o “Para que?” “Qual a finalidade dessa escolha na minha vida” e não o “Por que?”. Somente através da análise do inconsciente profundo é que podemos chegar ao verdadeiro motivo de nossas escolhas. Dessa forma fica claro para o paciente o que “habita” em seu inconsciente, que se não for dado a devida atenção, ou não for ressignificado alguns aspectos inconscientes, a pessoa vai continuar sofrendo com as consequências de suas escolhas equivocadas. Essas “escolhas equivocadas” não passariam de sintomas como consequência de complexos não resolvidos, de vivências traumáticas não elaboradas e por isso mesmo não ressignificadas, de uma negação de seus reais desejos, pelo simples fato de não conseguir sustentar o seu desejo ou se importando muito com o que os outros pensam e dessa forma não vivendo, experenciando o que realmente é importante para a vida dela mesma, vivendo dessa forma “uma vida não vivida”.
            Toda vez que deixarmos de ser quem realmente somos (Self), de viver nosso verdadeiro projeto de vida (individuação) etc, com certeza sofreremos. Nosso inconsciente irá cobrar um preço, irá através de simbolismos tentar reestabelecer o equilíbrio em nossa vida. E se ainda assim, recusarmos dar a devida atenção para nossos conteúdos inconscientes, podemos adoecer de diversas formas, como neuroses e até mesmo psicoses, além de várias formas de somatizar, o que antes era “apenas um sintoma”, se transforma em uma doença orgânica (por exemplo diabetes) e não raro, em doenças orgânicas fatais (câncer etc).
            Querido leitor, você presta atenção em suas escolhas? Como vem conduzindo a sua vida? Por que não consegue simplesmente parar de fazer as mesmas escolhas que você sabe que irá te prejudicar?
           
 







segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Transtornos na Moda

              Cada vez mais venho me deparando em meus atendimentos, com pessoas que foram diagnosticadas ou se auto “intitulando” com Transtorno Afetivo Bipolar, com Síndrome do Pânico, Depressão e outros transtornos. Chegam ao consultório relatando que o médico disse, que a mãe disse, que o marido e os amigos(as) disseram que elas são isso e aquilo. O pior de tudo é que realmente acreditam nesse “diagnóstico” e muitas vezes passam a se comportar como tal e na maioria das vezes sofrem caladas, muitas vezes com vergonha de serem “doentes”.
         Venho percebendo cada vez mais que “está na moda” diagnosticar como Bipolar, Depressivo, TOC, Ansiedade (Pânico) etc. Uma pessoa não pode alternar o humor que é Bipolar, não pode ficar triste e um pouco reservada por uns dias que está com depressão. Assim como não pode ficar ansiosa e não saber bem explicar o motivo de tal ansiedade que agora “desenvolveu” um transtorno de ansiedade. Vejamos; alguém já viu uma abelha mudar de humor? Um bezerro? Ou ainda, alguém já viu um jacaré ficar extremamente triste? Ou uma tartaruga ficar com muito medo (Fobia) e não conseguir mais colocar a cabeça pra fora de seu próprio casco? Pois é, eu também não. E sabem o motivo de não acontecer isso com esses animais? Porque ficar triste sem um motivo aparente, mudar de humor (inclusive facilmente), ficar ansioso sem saber bem o motivo, é da condição humana. Nós seres humanos sempre vamos experimentar essas sensações e nem por isso temos os transtornos mencionados.
            Com isso obviamente, não estou negando que existam os transtornos mencionados. O ser humano pode sim por inúmeros fatores, ser acometido de tais doenças/dificuldades. Inclusive, uma pessoa pode sofrer com mais de um transtorno, por exemplo, receber um diagnóstico de transtorno do impulso e ainda de uma outra comorbidade como a depressão. E ser correto o diagnóstico. Isso também é da condição humana.
            O que pretendo com a minha reflexão é chamar a atenção de médicos psiquiatras, psicólogos (profissionais da saúde em geral), para um diagnóstico mais preciso, que sejam mais cuidadosos em sua conduta e não saiam afirmando, decretando que uma pessoa é isso ou aquilo, reduzindo o paciente a uma doença, a um sintoma. Não é porque uma pessoa relata estar triste por um período, que estamos falando necessariamente de depressão. Nem tão pouco, uma pessoa que ultimamente relata experimentar mudanças de humor, estaremos falando ou diante de um caso de Bipolaridade.
            Um diagnóstico errado pode prejudicar muito a vida de uma pessoa, principalmente se ela acreditar em sua enfermidade (efeito placebo) e passar a agir como tal, se resignar e dessa forma, muitas vezes acabar realmente “desenvolvendo” o transtorno seja ele qual for.
            Podemos estar triste, ansiosos ou experimentar mudanças de humor por muitos motivos, os mais variados. Somos dotados de um inconsciente, que quer comunicar algo, no entanto, muito provavelmente podemos não estar dando a devida atenção. Dessa forma o inconsciente, precisa se expressar da forma mais simbólica possível, tentando comunicar o que está de errado com ela, na vida dessa pessoa. É nesse momento que os sintomas podem aparecer, inclusive podemos somatizar. Não obstante, não estamos falando necessariamente de um transtorno.
            Em minha experiência como psicólogo clínico, constato que na maioria dos casos que aparecerem no consultório não se trata de um transtorno realmente. Depois de algumas sessões, de algum tempo de terapia, vejo ficar claro para a maioria dessas pessoas, que elas não sofrem do transtorno da depressão, não são bipolares etc. São pessoas que estão sofrendo, passando por situações difíceis e por isso mesmo é natural que experimentem alguns momentos de tristeza. É natural e até esperado que fiquem ansiosas com muitas situações do dia-a-dia, ainda mais se essas pessoas não conseguem explicar e/ou compreendem o motivo de sua dor etc.
            Portanto, minha reflexão é em relação ao diagnóstico muitas vezes precipitado, que não deve ser do interesse de ninguém com exceção da indústria farmacêutica que cada vez mais vem lucrando, com quantias exorbitantes por conta da “medicalização indiscriminada”. Acredito que para essas pessoas que sofrem com esse tipo de situação, fosse muito interessante e prudente que elas consigam aprender a compreender e enfrentar melhor suas dificuldades. Dessa maneira, dificilmente experimentariam o sentimento de vergonha de “sí-mesma” e com certeza sofreriam bem menos.
Quando isso torna-se possível, as pessoas que costumam chegar a qualquer consultório (pelo menos as que procuram ajuda) com uma identidade distorcida do tipo “Sou o João e tenho depressão”, passam dessa situação para algo parecido com: “Sou o João e passei por algumas dificuldades e pude compreender o motivo de minha tristeza, como eu estava conduzindo minha própria vida e dessa forma, posso agora lidar melhor com a vida, com as pessoas e claro, comigo mesmo”.


Como é fazer Terapia?

Como é fazer terapia? Você já se interessou ou se interessa em fazer? Vale a pena ficar ligado nesse vídeo!!!