JOGO
PATOLÓGICO
O Jogo Patológico (JP) é um transtorno psiquiátrico classificado
atualmente no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV),
1994 (está localizado no capítulo 14), como um dos “transtornos de controle de
impulsos não classificados em outro local”.
Em minha experiência no Ambulatório do Jogo Patológico
(AMJO) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP), tenho
verificado principalmente relatos de situações
de falência patrimonial, problemas familiares como separações, problemas
psicológicos e sociais. Relatam ainda, não se sentirem mais úteis e que
perderam totalmente a sua dignidade por conta das dificuldades advindas do jogo.
Uma
característica em comum nos relatos é a incapacidade de conseguir controlar
seus impulsos em jogos de azar (mal-adaptativo), como por exemplo, loterias,
corridas de cavalo, bingo e vídeo-bingo, jogo do bicho, que se caracterizam por
não envolverem estratégias, nem nenhum tipo de técnica ou habilidade especial,
pois o resultado do jogo é determinado pelo acaso, é imprevisível, aleatório,
que não se pode controlar.
No
entanto, muitos acreditam ter uma relação particular com a sorte, e o jogo
passa a ocupar a maior parte de seu tempo, chegando a passar várias horas
dentro de uma casa de bingo sem que o mesmo se questione sobre sua condição,
sem nenhuma crítica a respeito. Perdas são encaradas como reversíveis mediante
novas apostas e cada vez maiores.
O JP
está também associado a muitos comportamentos de risco para a saúde das pessoas
como; sedentarismo, comportamento de risco para doenças sexualmente
transmissíveis, atos ilegais para financiar o jogo, estresse, e abuso de álcool
e nicotina.
O
tratamento com jogadores patológicos atualmente é predominantemente
psicoterápico, seja individual ou em grupo, sendo que não existe ainda uma
medicação para o JP, uma vez que os estudos em relação ao tratamento
farmacológico ainda não são conclusivos. No entanto, devido a sua elevada
ocorrência de co-morbidades, torna a avaliação psiquiátrica muito importante, e
eventualmente alguma medicação seja prescrita para tratar dessas co-morbidades,
como por exemplo a depressão.
No
entanto, apesar da “personalidade padrão”, em relação as características dos
jogadores patológicos, não se pode esquecer
de mencionar que
cada indivíduo
é único, com
um histórico
de vida singular
e que ao longo
de sua vida,
no desenvolvimento do ego, enfrentam de maneiras
diferentes,
os vários estímulos
externos, mediante
a sua cultura
e interação social,
bem como lida com seus estímulos internos (complexos).
Carl Gustav Jung (1910), diz: “A liberdade do eu cessa onde começa a
esfera dos complexos, pois estes são potências psíquicas cuja natureza mais
profunda ainda não foi alcançada”
Para
Jung o complexo possui uma energia de tal valor, que supera às vezes as
intenções conscientes, assumindo por vezes o controle do ego, com energia
psíquica suficiente para assumir o controle de maneira que estar “em complexo”
é, em si mesmo, um estado que pode inclusive levar a uma dissociação do ego nos casos mais
intensos.
Essa
dificuldade com o jogo de azar (patologia) que muitas pessoas enfrentam na vida
(quase nunca compreendida pela família que vê o jogador como “sem vergonha”), tem
tratamento. É importante buscar ajuda, para dessa maneira, compreender o “motivo
inconsciente” que o faz jogar e perder o controle muitas vezes sobre sua
própria vida, perdendo algumas vezes o emprego, sua auto-estima, a vontade de
viver (suicídio), se afastando das pessoas que ama etc.
O
sofrimento causado pelo jogo é muito intenso tanto para o jogador quanto para
seus familiares e pessoas de seu convívio social. Coragem e força de vontade são
de muita valia para qualquer tipo de tratamento.
Caso
seja essa sua situação, procure ajuda, vale a pena!!