SOMATIZAÇÃO
DESESPERO DO INCONSCIENTE
Toda
doença é um complexo. Seja um complexo familiar ou pessoal. Algumas teorias
apontam, que devemos descontar doenças que podemos adquirir por vírus ou
bactérias, adquiridas no ar. No entanto, também será um complexo quando
consciente ou inconscientemente nos expomos ao risco do contágio.
Para entendermos o que é Somatização
ou Somatizar, precisamos entender o ser humano como de fato ele é. Somos um ser
completo que não está dividido entre mente e corpo. Essa dicotomia não existe.
Mente e corpo, estão unidas, formando uma totalidade. Isso posto, um influi
sobre o outro de forma automática e irrestrita, não sendo possível, dizer que
meu corpo está doente e minha mente sã, ou vice e versa.
Somente
quando precisamos ser didáticos, “separamos” mente e corpo para oferecer talvez
uma melhor compreensão.
Portanto, o que é somatização? Por
que acontece isso? O que fazer para não somatizar? Obviamente não pretendo
esgotar essa temática com esse pequeno artigo sobre assunto tão complexo e
abrangente. Mas jogar uma luz sobre o assunto, uma vez que cada vez mais, a
incidência vem crescendo (América Latina responde pelo maior número de
somatizações).
Nossa totalidade, sempre ira buscar
o equilíbrio. Nosso bem estar, nossa saúde depende desse equilíbrio. Funcionaremos
melhor, teremos mais qualidade de vida quando tudo estiver equilibrado. Porém quando
algo acontece em nossas vidas que coloca esse equilíbrio em risco, a psique soa
o alerta. Separando agora mente e corpo (apenas com a finalidade de sermos
didático), se ficarmos sem beber água por um tempo considerável, nosso
organismo fica desidratado e experimentamos o sintoma da sede que nos alerta
para a necessidade de bebermos água e dessa forma voltamos a ficar em
equilíbrio, em harmonia (homeostase). Da mesma forma (separando para ser
didático), nossa psique inconsciente manda avisos quando algo acontece conosco,
que nos desestabiliza, que nos afeta de forma significativa e nos perturba. Enfim,
que nos desequilibra (noticia ruim, decepção, traição, sentimento de desamparo,
culpa).
Antes de eu elucidar com alguns
exemplos como pode ocorrer as somatizações, vou parafrasear a charge da
Mafalda; “Pra onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que
sentimos?”
Para onde vai nossos sentimentos
como mágoa, raiva, ressentimento, medo, desejo de vingança, inveja, culpa etc,
quando não sabemos lidar com eles? Quando os negamos, quando muitas vezes nem
percebemos que experimentamos esses sentimentos todos, o que acontece? A
resposta obviamente é que vai para o corpo, somatizamos toda essa problemática.
Uma vez que não conseguimos elaborar, experenciar tudo isso, e consequentemente
transformar, dar um novo significado para enfim resolvermos essas questões, a
somatização é um caminho.
E por que algumas pessoas tem maior
facilidade/probabilidade em somatizar do que outras?
Talvez os dois autores que mais
contribuíram com a pesquisa em psicossomática, foram Pierre Marty e a Joyce
McDougall. Ambos trouxeram os conceitos de “pensamento operatório” e
“desafetação” respectivamente.
Tentando resumir da maneira mais
sucinta possível, ambos afirmam que essas pessoas que somatizam, estão
relacionados a uma desarmonia afetiva, ocorridas na primeira infância, devido a
uma falha materna, seja por conta de uma mãe super protetora, ou negligente.
Mães autoritárias, deprimidas, que de alguma maneira, não se mostraram capazes
de proteger seus filhos das tensões que os acometeram no início da vida.
A mãe deve proteger a criança das
tensões exteriores, e deve interpretar a comunicação primitiva e inclusive
nomear os estados afetivos do bebê. Dessa forma, irá promover a progressiva
dessomatização do aparelho psíquico. Faço um adendo aqui para dizer que, quando
há uma falha materna, mas um pai presente que faz esse compensatório (amor,
carinho, atenção), a criança pode se livrar desse caminho ou minimizar seus
efeitos sobre o psiquismo da criança.
Portanto, esses indivíduos propensos
a somatizar (devido segundo os autores citados, decorrente de uma falha
materna, na relação mãe/bebê) tornam-se pessoas que não conseguem perceber a
comunicação do inconsciente, que se manifesta de diversas maneiras, como
insights, sonhos, sincronicidades, alguns sintomas de alguma doença, mas quando
procuram o médico o mesmo não encontra nada que justifique. Pessoas que o
inconsciente não consegue se comunicar mediante o emprego de representações
simbólicas, tende a encontrar no corpo sua única possibilidade de expressão. Inclusive
relatam que praticamente pararam de sonhar. São pessoas que costumam
estabelecer vínculos afetivos pouco significativos e sustentam relacionamentos
quase sempre superficiais. No entanto, o psiquismo de pacientes somáticos, não
se encontram totalmente desligados do inconsciente, porém não estão
satisfatoriamente conectados.
Muito frequentemente também, pessoas
que não tem esse funcionamento descrito acima, também podem adoecer, somatizar,
na medida em que a pessoa percebe, mas no entanto, recalca. A pessoa faz “vista
grossa” para os alertas do inconsciente. É como se dissessem: “Ok, sei que tem
algo errado comigo, mas bola pra frente, vamos levando”. Essa pessoa fatalmente
cedo ou tarde irá adoecer também.
Voltando
ao perfil, das pessoas que tem a tendência a somatizar como descrevi acima, o
indivíduo por exemplo (apenas exemplos que podem acontecer, sendo que a simbologia
não é fixa, varia de pessoa para pessoa), sente um sintoma de desconforto
abdominal, gastrite, mas a mesma não percebe, não consegue relacionar que pode
estar negligenciando sentimentos. A pessoa pode sofrer de infecções frequentes
na garganta e não percebe, não relaciona que está engolindo muito sapo, devido
muitas vezes ao simples fato de não conseguir dizer “não”. Ou ainda,
experimenta fortes dores no joelho, dificultando o seu andar e sua
flexibilidade, mas não relaciona, tem dificuldades para perceberem e admitirem que
ela mesma está sendo muito rígida (consigo mesma ou com os outros), arrogante,
intransigente etc. Pessoas que desenvolvem um problema no rim e não associam ao
fato dela não estar “filtrando” bem o que chega até ela. É o tipo de pessoa que
se importa muito com a opinião dos outros, que leva tudo muito a sério, que se
deixa afetar por tudo que está a sua volta, não separando, não eliminando as “impurezas”
do que serve ou não serve para a sua vida. O que devo me importar e o que não
devo.
Cada
vez mais me deparo com casos de somatização, seja em meu consultório ou em meus
atendimentos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. E essa problemática
é muito relevante para não ser levada a sério.
Na
análise podemos apontar essas questões para as pessoas que aos poucos vão
percebendo, tomando consciência do que está acontecendo, qual complexo em sua
vida é o responsável pelo seu adoecimento. Dessa maneira, a pessoa tem uma
oportunidade de ressignificar a sua vida, de entrar em contato com essas
questões inconscientes que o fez adoecer. O mesmo pode se proteger e consequentemente
resolver os conflitos que se continuarem “soltos” no inconsciente, podem fazer
com que a pessoa venha adoecer de forma grave ou até mesmo de forma fatal.
Se nada for feito a respeito, o
inconsciente pode não mais encontrar uma válvula de escape, uma maneira de se
fazer entender, e aí fatalmente iremos adoecer, podemos somatizar uma doença e
não apenas um sintoma que os médicos simplesmente não encontram a causa, mesmo
fazendo muitos exames. Com o inconsciente não se brinca!!
Caro leitor(a), você consegue
perceber, identificar e interpretar seus sentimentos? Você consegue entender a
linguagem simbólica do inconsciente? Se sim, tem respondido ao seu inconsciente
ou tem negligenciado?
Olhando para a sua vida, você sabe
responder a questão da Mafalda: “Pra onde vão nossos silêncios quando deixamos
de dizer o que sentimos?”