segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Transtornos na Moda

              Cada vez mais venho me deparando em meus atendimentos, com pessoas que foram diagnosticadas ou se auto “intitulando” com Transtorno Afetivo Bipolar, com Síndrome do Pânico, Depressão e outros transtornos. Chegam ao consultório relatando que o médico disse, que a mãe disse, que o marido e os amigos(as) disseram que elas são isso e aquilo. O pior de tudo é que realmente acreditam nesse “diagnóstico” e muitas vezes passam a se comportar como tal e na maioria das vezes sofrem caladas, muitas vezes com vergonha de serem “doentes”.
         Venho percebendo cada vez mais que “está na moda” diagnosticar como Bipolar, Depressivo, TOC, Ansiedade (Pânico) etc. Uma pessoa não pode alternar o humor que é Bipolar, não pode ficar triste e um pouco reservada por uns dias que está com depressão. Assim como não pode ficar ansiosa e não saber bem explicar o motivo de tal ansiedade que agora “desenvolveu” um transtorno de ansiedade. Vejamos; alguém já viu uma abelha mudar de humor? Um bezerro? Ou ainda, alguém já viu um jacaré ficar extremamente triste? Ou uma tartaruga ficar com muito medo (Fobia) e não conseguir mais colocar a cabeça pra fora de seu próprio casco? Pois é, eu também não. E sabem o motivo de não acontecer isso com esses animais? Porque ficar triste sem um motivo aparente, mudar de humor (inclusive facilmente), ficar ansioso sem saber bem o motivo, é da condição humana. Nós seres humanos sempre vamos experimentar essas sensações e nem por isso temos os transtornos mencionados.
            Com isso obviamente, não estou negando que existam os transtornos mencionados. O ser humano pode sim por inúmeros fatores, ser acometido de tais doenças/dificuldades. Inclusive, uma pessoa pode sofrer com mais de um transtorno, por exemplo, receber um diagnóstico de transtorno do impulso e ainda de uma outra comorbidade como a depressão. E ser correto o diagnóstico. Isso também é da condição humana.
            O que pretendo com a minha reflexão é chamar a atenção de médicos psiquiatras, psicólogos (profissionais da saúde em geral), para um diagnóstico mais preciso, que sejam mais cuidadosos em sua conduta e não saiam afirmando, decretando que uma pessoa é isso ou aquilo, reduzindo o paciente a uma doença, a um sintoma. Não é porque uma pessoa relata estar triste por um período, que estamos falando necessariamente de depressão. Nem tão pouco, uma pessoa que ultimamente relata experimentar mudanças de humor, estaremos falando ou diante de um caso de Bipolaridade.
            Um diagnóstico errado pode prejudicar muito a vida de uma pessoa, principalmente se ela acreditar em sua enfermidade (efeito placebo) e passar a agir como tal, se resignar e dessa forma, muitas vezes acabar realmente “desenvolvendo” o transtorno seja ele qual for.
            Podemos estar triste, ansiosos ou experimentar mudanças de humor por muitos motivos, os mais variados. Somos dotados de um inconsciente, que quer comunicar algo, no entanto, muito provavelmente podemos não estar dando a devida atenção. Dessa forma o inconsciente, precisa se expressar da forma mais simbólica possível, tentando comunicar o que está de errado com ela, na vida dessa pessoa. É nesse momento que os sintomas podem aparecer, inclusive podemos somatizar. Não obstante, não estamos falando necessariamente de um transtorno.
            Em minha experiência como psicólogo clínico, constato que na maioria dos casos que aparecerem no consultório não se trata de um transtorno realmente. Depois de algumas sessões, de algum tempo de terapia, vejo ficar claro para a maioria dessas pessoas, que elas não sofrem do transtorno da depressão, não são bipolares etc. São pessoas que estão sofrendo, passando por situações difíceis e por isso mesmo é natural que experimentem alguns momentos de tristeza. É natural e até esperado que fiquem ansiosas com muitas situações do dia-a-dia, ainda mais se essas pessoas não conseguem explicar e/ou compreendem o motivo de sua dor etc.
            Portanto, minha reflexão é em relação ao diagnóstico muitas vezes precipitado, que não deve ser do interesse de ninguém com exceção da indústria farmacêutica que cada vez mais vem lucrando, com quantias exorbitantes por conta da “medicalização indiscriminada”. Acredito que para essas pessoas que sofrem com esse tipo de situação, fosse muito interessante e prudente que elas consigam aprender a compreender e enfrentar melhor suas dificuldades. Dessa maneira, dificilmente experimentariam o sentimento de vergonha de “sí-mesma” e com certeza sofreriam bem menos.
Quando isso torna-se possível, as pessoas que costumam chegar a qualquer consultório (pelo menos as que procuram ajuda) com uma identidade distorcida do tipo “Sou o João e tenho depressão”, passam dessa situação para algo parecido com: “Sou o João e passei por algumas dificuldades e pude compreender o motivo de minha tristeza, como eu estava conduzindo minha própria vida e dessa forma, posso agora lidar melhor com a vida, com as pessoas e claro, comigo mesmo”.


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