quarta-feira, 15 de junho de 2016

I LOVE RIVOTRIL



A cada dia mais me deparo com a droga do momento, a droga que promete devolver a paz e o equilíbrio psíquico as pessoas, não importando bem o seu quadro clínico, se recebeu o diagnóstico de Pânico, depressão ou ansiedade. Rivotril é a solução. Bom, não é bem assim.
            Segundo a Anvisa, o consumo no Brasil do principio ativo do Rivotril, o Clonazepam, em 2007 era de 29 mil caixas por ano. Em 2015 esse número atingiu os 23 milhões. Esse crescimento significativo, em pouco tempo, desperta as suspeitas de uso excessivo e desnecessário por parte de especialistas ou não especialistas (cardiologistas, clínico geral etc).
            Com a promessa de aliviar as pressões e as ansiedades do dia-a-dia, psiquiatras e médicos em geral, muitas vezes, nem se quer, sabem o mínimo sobre a vida do paciente, o que tem acontecido em sua vida, história clínica, as contingencias que o cercam no momento etc, prescrevem o remédio que é tarja preta, ou seja, pode causar dependência física e psíquica.
            No entanto, isso não vem mais passando despercebido por alguns médicos e o CREMESP. O médico psiquiatra Plínio Luiz K. Montagna, reconhece que o uso do Rivotril, tem sido banalizado para apaziguar sintomas sem dar a devida atenção as origens dos mesmos, podendo com isso, mascarar quadros mais graves, porque a ansiedade pode ser primária ou derivar de outras condições como a depressão e até mesmo psicoses, que exigem portanto, outros tipos de tratamento.
            Vejamos, uma pessoa pode estar ansiosa, experimentando uma angustia, por varios fatores em sua vida (momentaneamente as vezes). Desemprego, a preocupação com o filho estar usando drogas, a criminalidade crescente, principalmente nas grandes cidades, por motivos socioculturais, inclusive por ter traços de personalidade de menor tolerância a eventos negativos/aversivos, sem que com isso se caracterize por um quadro que se faça jus a prescrição do Rivotril. Não seria muitas vezes nem de perto a melhor conduta a ser adotada.
            Mauro Gomes A de Lima, conselheiro do CREMESP diz: “Existem maneiras de a vigilância sanitária mapear prescritores muito exagerados de tranquilizantes e por vezes, a gente chama esse médico no conselho e alertamos sobre esse uso indiscriminado. Mas é a qualidade da formação médica que evidentemente precisa melhorar no nosso país”.
            Minha reflexão está baseada no crescente número de pacientes que chegam em meu consultório fazendo o uso de tal medicação as vezes por anos a fio, mais de 5 anos por exemplo. Quando a recomendação médica baseada em vasta literatura recomenda ser apenas quando realmente necessário e o mais breve possível (muitas vezes não exceder 3 meses).
            Isso posto, não quero dizer que só existe erro ou precipitações nas prescrições médicas em relação ao Rivotril (ou até mesmo outros fármacos), e que ela não seja necessária em alguns casos, trazendo ganhos significativos para alguns pacientes. Apenas reflito sobre seu uso indiscriminado, por alguns médicos que não se importam realmente em saber mais sobre a vida daquele paciente. O famoso médico “que nem põe a mão no seu paciente”. Tanto que em alguns casos, para alguns pacientes o melhor tratamento é aquele feito em equipe por psiquiatra e psicólogo. Como diz Lima: “A psicoterapia é o tratamento que mais tem alcançado resultados, mais sustentados e deve ser feito concomitantemente ao tratamento farmacológico, sempre objetivando interromper a medicação depois de algum tempo”.
            Como psicólogo clínico, no decorrer de uma analise, percebo que cada vez mais por trás de uma ansiedade, muitas vezes se esconde uma vida não vivida, a culpa que o persegue ao longo de sua vida, o medo de desapontar alguém, de ser/estar escravo de alguém ou refém de suas escolhas etc. Ao passo que esses conteúdos que outrora era inconsciente, se tornam conscientes e a pessoa pode finalmente ter suporte para lidar com eles, a ansiedade, angustia e depressão podem ser superadas. E mais uma vez digo que com isso, não reconheço que muitas vezes é preciso sim ajuda de algum fármaco. Mas não da forma indiscriminada que vem sendo prescrito em nosso país e certamente no mundo. Nosso sistema Único de Saúde não seria sobrecarregado com mais esse custo e nem mesmo nos tratamentos particulares, se gastaria tanto. A única a se beneficiar com isso, certamente é a indústria farmacêutica.
            Não existe droga da felicidade ou sabedoria. Existem os desafios da vida e o melhor que temos é aprender a lidar com eles. Muitas pessoas se cobram muito (muitas vezes a gênese de sua ansiedade). As vezes o segredo da vida está em simplesmente dançar, sem se importar se sei ou não... dançar!!                       

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