O
diagnóstico da depressão muitas vezes é facilmente confundindo e frequentemente
banalizado. Qualquer tristeza ou ansiedade mesmo que considerada normal em
qualquer ser humano, em decorrência de um luto, ou qualquer outra perda, seja
de um trabalho, de um relacionamento afetivo etc, já pode ser motivo para
decretar precocemente o diagnóstico. No entanto, nesse artigo, vou me ater
quando realmente se trata do transtorno da depressão.
Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas
sofrem com a depressão no mundo, estima-se que só no Brasil, são 17 milhões. E
cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença. São dados
da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Ainda de acordo com OMS, até 2020 a
depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o mundo. Definitivamente,
isso não é pouca coisa.
Falando brevemente sobre as causas
químicas e psiquiátricas da depressão, a desregulação na produção e receptação
de neurotransmissores responsáveis pelo sentimento de bem estar, prazer e
disposição, como a serotonina, dopamina e noradrenalina no SNC (Sistema Nervoso
Central), acarreta um desequilíbrio hormonal e então surgem os primeiros
sintomas. Os principais e mais comuns seriam: diminuição ou perda da
auto-estima, insônia, tristeza, ansiedade, pessimismo, falta de motivação,
vazio interno, raiva, impaciência e intolerância. Inclusive a pessoa pode
experimentar uma perda de interesse nas atividades que antes eram muito prazerosas,
mas que agora deixaram de ser. Quase sempre de forma abrupta e sem motivo
aparente.
O objetivo do tratamento
psiquiátrico consiste na eliminação dos sintomas que constituem o transtorno,
através da prescrição de fármacos (antidepressivos). As reais causas que
levaram essa desregulação química, ficam de fora. Não sendo devidamente
investigados e tratados da forma correta. Isso na grande maioria das vezes
(como os próprios pacientes relatam).
Não obstante, não estou dizendo que
todos os psiquiatras não investigam corretamente nem que o tratamento
farmacológico em muitos casos também não tenha a sua importância, a sua
contribuição. Pois a medicação por um período, pode ajudar muito a pessoa a
reunir condições de inclusive sair da cama, de não adoecer ainda mais etc.
Inclusive o melhor tratamento é o realizado em conjunto, uma parceria
Psicologia/Psiquiatria.
Mas o que leva essa desregulação
química? Existe algum fator determinante para desencadear a depressão?
C. G. Jung, nos fala sobre o
processo de individuação, de tornar-se quem realmente nós somos e o quanto uma
falha nesse processo pode nos adoecer de diversas maneiras (a depressão é uma delas).
Ou seja, quando não estamos conseguindo conduzir a vida da maneira que realmente
gostaríamos e deveríamos, abdicando dos nossos reais desejos para não
decepcionar alguém ou muitas vezes por “medo” desse alguém, fatalmente iremos
sofrer. Mesmo que eu não perceba, não sinta de imediato os seus efeitos, essa
situação nos afeta e pode adoecer.
Freud já alertava sobre a
possibilidade de quando “perdemos o objeto amado”, (por “objeto” entenda-se um
sonho, uma idealização, uma pessoa etc) ou ainda quando inclusive perdemos o
nosso verdadeiro EU, a pessoa muito provavelmente irá adoecer de melancolia
(depressão). Mesmo que essa perda não seja consciente, como afirmou Freud: “A
melancolia (depressão) está de alguma forma relacionada a uma perda objetal
retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de
inconsciente a respeito da perda”.
Para tentar ajudar o leitor
compreender essa perda segundo Freud ou a falta de se realizar, de se tornar
quem realmente somos de verdade (processo de individuação) do Jung, vou citar
alguns exemplos.
Vejamos: quando a vontade do pai, faz
com que a pessoa estude e trabalhe por anos em uma profissão que não o faz
feliz, pelo contrário, é motivo de infelicidade. Ainda assim a pessoa não tem
coragem, forças o suficiente para enfrentar esse pai ou mãe, muitas vezes enfrentar
a família toda e romper com o que faz mal a ela. Ou, quando uma filha sai de
casa e vai morar em outro país e a mãe não consegue aceitar viver longe dessa
filha, não compreendendo que ela tem o direito de viver a sua própria vida, de
fazer suas escolhas e acaba adoecendo (nesse caso adoece as duas, a mãe por não
aceitar e a filha por se sentir culpada em deixar a mãe e saber que ela está
sofrendo). Ou ainda quando a pessoa não consegue dizer “NÃO” para os outros e
sempre está se contrariando, fazendo a vontade alheia. Ela viaja sem querer viajar,
ela come algo sem querer comer, faz isso só para agradar. Ela se veste, fala,
se comporta de uma maneira que não é sua, não é de sua vontade, seu real
desejo. Tudo em nome de “para evitar brigas desnecessárias”, ou “acho que a
pessoa tem razão mesmo” etc. Ou seja, toda vez que não entramos em contato com
nosso verdadeiro EU, estaremos falando “Sim” para os outros e “Não” para nós
mesmo. Isso tem um preço e a psique fatalmente ira cobrar. Mais cedo ou mais
tarde a fatura chega (com juros).
Portanto, a pessoa que não conhece a
sí mesma, que não toma as rédeas de sua vida, que não conhece seus verdadeiros
desejos ou que não consegue sustenta-los, ou ainda, que não consegue lidar com
perdas por não compreende-las ou por egoísmo (Narcisismo) não as aceita etc,
com certeza torna-se um sério candidato a desenvolver esse transtorno tão
penoso para sí mesmo como para sua família e a todos ao seu redor. Em alguns
casos com desfecho trágico (suicídio).
Tenho observado em meu consultório,
ao menos na última década, que cada vez mais, tem aumentado o numero de pessoas
que tem procurado ajuda com o quadro de depressão ou que acreditam sofrer desse
transtorno.
A psicoterapia tem se mostrado
fundamentalmente importante na vida das pessoas com esse diagnóstico (ou as que
também estão muito tristes, sentindo um vazio, mesmo que não seja necessariamente
depressão). É através da analise do inconsciente que a pessoa pode se
encontrar, se conhecer, compreender melhor o motivo de seu adoecimento e
obviamente reunir as condições de superar suas dificuldades, sua depressão. A
psicoterapia vai definitivamente ajudar a pessoa a se libertar, ajudar a pessoa
a resolver os seus complexos, os seus traumas, os seus medos, ajudar a pessoa a
dizer “SIM” para sí-mesma, enfrentar a vida e seus obstáculos. A psicoterapia
irá proporcionar o que é de mais importante, o encontro da pessoa com o seu
verdadeiro EU e dar o suporte que a pessoa necessita para aprender a enfrentar e
a compreender a sí-mesma.
Encontrar a SÍ-MESMO, vale muito a
pena!!
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