sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Depressão - A Perda do EU

 


       
          O diagnóstico da depressão muitas vezes é facilmente confundindo e frequentemente banalizado. Qualquer tristeza ou ansiedade mesmo que considerada normal em qualquer ser humano, em decorrência de um luto, ou qualquer outra perda, seja de um trabalho, de um relacionamento afetivo etc, já pode ser motivo para decretar precocemente o diagnóstico. No entanto, nesse artigo, vou me ater quando realmente se trata do transtorno da depressão.
   Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo, estima-se que só no Brasil, são 17 milhões. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença. São dados da OMS (Organização Mundial de Saúde).
            Ainda de acordo com OMS, até 2020 a depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o mundo. Definitivamente, isso não é pouca coisa.
            Falando brevemente sobre as causas químicas e psiquiátricas da depressão, a desregulação na produção e receptação de neurotransmissores responsáveis pelo sentimento de bem estar, prazer e disposição, como a serotonina, dopamina e noradrenalina no SNC (Sistema Nervoso Central), acarreta um desequilíbrio hormonal e então surgem os primeiros sintomas. Os principais e mais comuns seriam: diminuição ou perda da auto-estima, insônia, tristeza, ansiedade, pessimismo, falta de motivação, vazio interno, raiva, impaciência e intolerância. Inclusive a pessoa pode experimentar uma perda de interesse nas atividades que antes eram muito prazerosas, mas que agora deixaram de ser. Quase sempre de forma abrupta e sem motivo aparente.
            O objetivo do tratamento psiquiátrico consiste na eliminação dos sintomas que constituem o transtorno, através da prescrição de fármacos (antidepressivos). As reais causas que levaram essa desregulação química, ficam de fora. Não sendo devidamente investigados e tratados da forma correta. Isso na grande maioria das vezes (como os próprios pacientes relatam).
            Não obstante, não estou dizendo que todos os psiquiatras não investigam corretamente nem que o tratamento farmacológico em muitos casos também não tenha a sua importância, a sua contribuição. Pois a medicação por um período, pode ajudar muito a pessoa a reunir condições de inclusive sair da cama, de não adoecer ainda mais etc. Inclusive o melhor tratamento é o realizado em conjunto, uma parceria Psicologia/Psiquiatria.
            Mas o que leva essa desregulação química? Existe algum fator determinante para desencadear a depressão?
            C. G. Jung, nos fala sobre o processo de individuação, de tornar-se quem realmente nós somos e o quanto uma falha nesse processo pode nos adoecer de diversas maneiras (a depressão é uma delas). Ou seja, quando não estamos conseguindo conduzir a vida da maneira que realmente gostaríamos e deveríamos, abdicando dos nossos reais desejos para não decepcionar alguém ou muitas vezes por “medo” desse alguém, fatalmente iremos sofrer. Mesmo que eu não perceba, não sinta de imediato os seus efeitos, essa situação nos afeta e pode adoecer.
            Freud já alertava sobre a possibilidade de quando “perdemos o objeto amado”, (por “objeto” entenda-se um sonho, uma idealização, uma pessoa etc) ou ainda quando inclusive perdemos o nosso verdadeiro EU, a pessoa muito provavelmente irá adoecer de melancolia (depressão). Mesmo que essa perda não seja consciente, como afirmou Freud: “A melancolia (depressão) está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito da perda”.
            Para tentar ajudar o leitor compreender essa perda segundo Freud ou a falta de se realizar, de se tornar quem realmente somos de verdade (processo de individuação) do Jung, vou citar alguns exemplos.
Vejamos: quando a vontade do pai, faz com que a pessoa estude e trabalhe por anos em uma profissão que não o faz feliz, pelo contrário, é motivo de infelicidade. Ainda assim a pessoa não tem coragem, forças o suficiente para enfrentar esse pai ou mãe, muitas vezes enfrentar a família toda e romper com o que faz mal a ela. Ou, quando uma filha sai de casa e vai morar em outro país e a mãe não consegue aceitar viver longe dessa filha, não compreendendo que ela tem o direito de viver a sua própria vida, de fazer suas escolhas e acaba adoecendo (nesse caso adoece as duas, a mãe por não aceitar e a filha por se sentir culpada em deixar a mãe e saber que ela está sofrendo). Ou ainda quando a pessoa não consegue dizer “NÃO” para os outros e sempre está se contrariando, fazendo a vontade alheia. Ela viaja sem querer viajar, ela come algo sem querer comer, faz isso só para agradar. Ela se veste, fala, se comporta de uma maneira que não é sua, não é de sua vontade, seu real desejo. Tudo em nome de “para evitar brigas desnecessárias”, ou “acho que a pessoa tem razão mesmo” etc. Ou seja, toda vez que não entramos em contato com nosso verdadeiro EU, estaremos falando “Sim” para os outros e “Não” para nós mesmo. Isso tem um preço e a psique fatalmente ira cobrar. Mais cedo ou mais tarde a fatura chega (com juros).
            Portanto, a pessoa que não conhece a sí mesma, que não toma as rédeas de sua vida, que não conhece seus verdadeiros desejos ou que não consegue sustenta-los, ou ainda, que não consegue lidar com perdas por não compreende-las ou por egoísmo (Narcisismo) não as aceita etc, com certeza torna-se um sério candidato a desenvolver esse transtorno tão penoso para sí mesmo como para sua família e a todos ao seu redor. Em alguns casos com desfecho trágico (suicídio).
            Tenho observado em meu consultório, ao menos na última década, que cada vez mais, tem aumentado o numero de pessoas que tem procurado ajuda com o quadro de depressão ou que acreditam sofrer desse transtorno.
A psicoterapia tem se mostrado fundamentalmente importante na vida das pessoas com esse diagnóstico (ou as que também estão muito tristes, sentindo um vazio, mesmo que não seja necessariamente depressão). É através da analise do inconsciente que a pessoa pode se encontrar, se conhecer, compreender melhor o motivo de seu adoecimento e obviamente reunir as condições de superar suas dificuldades, sua depressão. A psicoterapia vai definitivamente ajudar a pessoa a se libertar, ajudar a pessoa a resolver os seus complexos, os seus traumas, os seus medos, ajudar a pessoa a dizer “SIM” para sí-mesma, enfrentar a vida e seus obstáculos. A psicoterapia irá proporcionar o que é de mais importante, o encontro da pessoa com o seu verdadeiro EU e dar o suporte que a pessoa necessita para aprender a enfrentar e a compreender a sí-mesma. 

         O lado bom da vida é viver. Viver com saúde, com dignidade.

         Encontrar a SÍ-MESMO, vale muito a pena!! 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

RITALINA - A DROGA DA OBEDIÊNCIA




Hoje posto aqui um artigo que escrevi para a Revista Canguru na versão completa (na revista por conta das normas da revista está resumido) sobre a Ritalina, uma droga que vem causando muita polêmica e explodindo nas prescrições no mundo todo. Fica aqui um alerta para os senhores pais e cuidadores. No final coloquei um link da matéria publicada na revista.

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 8% a 12% das crianças no mundo todo foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade). A queixa dos pais e dos professores de que a criança tem dificuldade de se concentrar, de ser agitada e muitas vezes desobedientes, são os principais motivos que os levam a procurar ajuda médica e engordarem essa estatística.

       A Ritalina, nome comercial do metilfenidato, é um psicoestimulante, prescrito majoritariamente no tratamento de crianças diagnosticadas com TDAH. Sendo um estimulante, da família das anfetaminas (como a cocaína), se consumida em certa dosagem, defende-se que auxiliaria no desempenho de tarefas escolares.

Atualmente, qualquer sinal de mal-estar pode ser diagnosticado como uma patologia cuja conduta será unicamente a administração de psicofármacos. A prescrição abusiva de psicofármacos não atinge apenas os adultos, mas também o mal-estar das crianças tem encontrado uma resposta pronta naquele saber autoritário que não resiste à compulsão de medicar.

Mas aí é que começa os problemas. Não existe nenhum estudo acadêmico no mundo que comprove sua eficácia e que diga com certeza todos seus efeitos colaterais. Dessa forma, o diagnóstico precoce e errado em uma criança fatalmente estará a expondo a um risco muito grave de saúde.

Alguns efeitos colaterais além da própria dependência da medicação, já são bem conhecidos, como surtos de insônia, piora cognição, surtos psicóticos, alucinações e risco de suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). Outro agravante, contrariando inclusive a própria bula da medicação, crianças menores de 6 anos, cada vez mais vem sendo erroneamente diagnosticadas e medicadas.

As crianças muito inteligentes e de raciocínio rápido, criativas e inquietas no sentido de existir nelas o lado questionador que proporcionou a humanidade grandes gênios e pensadores, estão agora, desde muito cedo recebendo uma sentença condenatória de doentes e consequentemente tratamento medicamentoso, por um tempo muitas vezes indeterminado.         

Não negamos que algumas crianças podem ter dificuldades em algum momento em seu desenvolvimento, mas uma avaliação correta e cuidadosa, imprescindivelmente tem que ser multidisciplinar, ou seja, psiquiatras, neuropediatras, psicólogos e neuropsicólogos devem trabalhar juntos. Do contrário, fica impossível fazer um psicodiagnóstico seguro a respeito da criança.

A melhor forma de ajudar os pais e essas crianças, reside fundamentalmente na compreensão da dinâmica familiar. Detalhes que escapam, que passam desapercebidos da atenção e compreensão de todos.

Como C. G. Jung já havia percebido e alertado: “Sempre que uma criança pequena manifeste os sintomas da neurose, não se deveria perder muito tempo na pesquisa de seu inconsciente. A pesquisa deveria ser iniciada em outro lugar, a saber, na própria mãe, pois de acordo com a regra geral os pais são sempre os autores diretos da neurose da criança. Tudo aquilo que quisermos mudar nas crianças, devemos primeiro examinar se não é algo que é melhor mudar em nós mesmo. Talvez estejamos entendendo mal a necessidade pedagógica, porque ela nos recorda, de modo incômodo, que de qualquer maneira somos crianças e precisamos muitíssimo da educação”

Link: https://www.canguruonline.com.br/sao-paulo/noticia/artigos/ritalina-a-droga-da-obediencia
 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017


ENCERRANDO CICLOS



O poeta Fernando Pessoa alertou: "Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver”.
            A vida é dessa forma, ciclos iniciam e se encerram, ou pelo menos deveriam se encerrar. Mas para algumas pessoas, a dificuldade de finalizar um ciclo, deixar que a vida se renove e traga outras experiências e desafios é tremenda.
            Com isso a ansiedade, uma angustia (vazio interno), depressão e até mesmo neuroses e outros transtornos podem acometer a vida dessa pessoa. Ninguém começa de fato um novo capítulo em sua vida sem antes terminar o anterior.
            Muitas pessoas simplesmente não conseguem desapegar de seu passado, relacionamento que terminou, demissão no trabalho, uma determinada época de sua vida, a dificuldade de se desapegar de algum comportamento como por exemplo de ter que manter uma postura para satisfazer alguém etc. É muito importante aprender a deixar de ser quem você pensa que era ou é e aprender a tornar-se de fato quem você é.
            A culpa é um dos sentimentos que frequentemente acompanha essas pessoas, acusando-a disso e daquilo. Sendo implacável e por isso mesmo impedindo a mesma de se libertar e de renovar (ou renovar-se), de não ter mais medo, de querer enfrentar o novo, o desconhecido, aquilo que não se tem controle (embora não tenhamos o controle de nada mesmo, muito menos de nosso passado, já passou...).
            Para isso, precisamos aprender a ouvir a nossa voz interior, que é calma, um tanto quanto silenciosa mas ao mesmo tempo firme e segura o suficiente que nos auxiliará nessa renovação, nessa transformação, no encerramento de ciclos.
            Somente quando entendermos que um ciclo é apenas uma etapa e que outra etapa precisa iniciar e que não precisamos temer o desconhecido é que será possível essa transformação.
            Encerrar ciclos é preciso, além de natural e esperado na vida de qualquer um. Por isso, deixe passar, deixe que vá embora (seja lá o que for). Desapegue!
            Dentro de nós existe uma força que irá nos ajudar a superar a saudade, a dor, a dúvida do que fazer, para onde ir e com quem ir. Confie em Sí-Mesmo!! Valera a pena!
            Vejo essa “mágica” acontecer em todo processo analítico que acompanho em meu consultório, por mais difícil e trabalhoso que tenha sido esse percurso, esse processo de encerrar ciclos. Até porque, encerrar ciclos, significa apenas iniciar outro.
            Como já dizia o poeta: “Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

            É pra frente que se anda!!

quarta-feira, 15 de junho de 2016

I LOVE RIVOTRIL



A cada dia mais me deparo com a droga do momento, a droga que promete devolver a paz e o equilíbrio psíquico as pessoas, não importando bem o seu quadro clínico, se recebeu o diagnóstico de Pânico, depressão ou ansiedade. Rivotril é a solução. Bom, não é bem assim.
            Segundo a Anvisa, o consumo no Brasil do principio ativo do Rivotril, o Clonazepam, em 2007 era de 29 mil caixas por ano. Em 2015 esse número atingiu os 23 milhões. Esse crescimento significativo, em pouco tempo, desperta as suspeitas de uso excessivo e desnecessário por parte de especialistas ou não especialistas (cardiologistas, clínico geral etc).
            Com a promessa de aliviar as pressões e as ansiedades do dia-a-dia, psiquiatras e médicos em geral, muitas vezes, nem se quer, sabem o mínimo sobre a vida do paciente, o que tem acontecido em sua vida, história clínica, as contingencias que o cercam no momento etc, prescrevem o remédio que é tarja preta, ou seja, pode causar dependência física e psíquica.
            No entanto, isso não vem mais passando despercebido por alguns médicos e o CREMESP. O médico psiquiatra Plínio Luiz K. Montagna, reconhece que o uso do Rivotril, tem sido banalizado para apaziguar sintomas sem dar a devida atenção as origens dos mesmos, podendo com isso, mascarar quadros mais graves, porque a ansiedade pode ser primária ou derivar de outras condições como a depressão e até mesmo psicoses, que exigem portanto, outros tipos de tratamento.
            Vejamos, uma pessoa pode estar ansiosa, experimentando uma angustia, por varios fatores em sua vida (momentaneamente as vezes). Desemprego, a preocupação com o filho estar usando drogas, a criminalidade crescente, principalmente nas grandes cidades, por motivos socioculturais, inclusive por ter traços de personalidade de menor tolerância a eventos negativos/aversivos, sem que com isso se caracterize por um quadro que se faça jus a prescrição do Rivotril. Não seria muitas vezes nem de perto a melhor conduta a ser adotada.
            Mauro Gomes A de Lima, conselheiro do CREMESP diz: “Existem maneiras de a vigilância sanitária mapear prescritores muito exagerados de tranquilizantes e por vezes, a gente chama esse médico no conselho e alertamos sobre esse uso indiscriminado. Mas é a qualidade da formação médica que evidentemente precisa melhorar no nosso país”.
            Minha reflexão está baseada no crescente número de pacientes que chegam em meu consultório fazendo o uso de tal medicação as vezes por anos a fio, mais de 5 anos por exemplo. Quando a recomendação médica baseada em vasta literatura recomenda ser apenas quando realmente necessário e o mais breve possível (muitas vezes não exceder 3 meses).
            Isso posto, não quero dizer que só existe erro ou precipitações nas prescrições médicas em relação ao Rivotril (ou até mesmo outros fármacos), e que ela não seja necessária em alguns casos, trazendo ganhos significativos para alguns pacientes. Apenas reflito sobre seu uso indiscriminado, por alguns médicos que não se importam realmente em saber mais sobre a vida daquele paciente. O famoso médico “que nem põe a mão no seu paciente”. Tanto que em alguns casos, para alguns pacientes o melhor tratamento é aquele feito em equipe por psiquiatra e psicólogo. Como diz Lima: “A psicoterapia é o tratamento que mais tem alcançado resultados, mais sustentados e deve ser feito concomitantemente ao tratamento farmacológico, sempre objetivando interromper a medicação depois de algum tempo”.
            Como psicólogo clínico, no decorrer de uma analise, percebo que cada vez mais por trás de uma ansiedade, muitas vezes se esconde uma vida não vivida, a culpa que o persegue ao longo de sua vida, o medo de desapontar alguém, de ser/estar escravo de alguém ou refém de suas escolhas etc. Ao passo que esses conteúdos que outrora era inconsciente, se tornam conscientes e a pessoa pode finalmente ter suporte para lidar com eles, a ansiedade, angustia e depressão podem ser superadas. E mais uma vez digo que com isso, não reconheço que muitas vezes é preciso sim ajuda de algum fármaco. Mas não da forma indiscriminada que vem sendo prescrito em nosso país e certamente no mundo. Nosso sistema Único de Saúde não seria sobrecarregado com mais esse custo e nem mesmo nos tratamentos particulares, se gastaria tanto. A única a se beneficiar com isso, certamente é a indústria farmacêutica.
            Não existe droga da felicidade ou sabedoria. Existem os desafios da vida e o melhor que temos é aprender a lidar com eles. Muitas pessoas se cobram muito (muitas vezes a gênese de sua ansiedade). As vezes o segredo da vida está em simplesmente dançar, sem se importar se sei ou não... dançar!!                       

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Análise Junguiana - Psicologia Analitica

Análise Junguiana – Psicologia Analítica


             Quero compartilhar um pouco, da forma mais objetiva que eu consegui, o que é a Análise Junguiana, o que ela propõe, uma vez que ela guarda muita coisa em comum com a Psicanálise, mas também tem muitas coisas em franca oposição a teoria de Freud (mas não estarei aqui fazendo comparações entre as duas).
A Psicologia Analítica foi criada e desenvolvida pelo médico psiquiatra Carl Gustav Jung, nascido em 1875 na Suíça e falecido aos 85 anos de idade em 1961. Foi reconhecido no mundo inteiro como um dos maiores pensadores do século XX. A análise junguiana tem como objetivo auxiliar pessoas na resolução de dificuldades que elas não se veem capazes de resolver sozinhas. No entanto, a sua principal contribuição será auxiliar a pessoa cada vez mais tornar-se quem ela realmente é, “torne-se SÍ-Mesmo” (SELF).
            Toda vez que deixamos de ser quem realmente somos para agradar alguém, corresponder a expectativa alheia, quando deixamos de vivenciar/experenciar algo relevante para nossa vida, inevitavelmente iremos sofrer. Em muitos casos dependendo da renúncia que fizermos em nossa vida, podemos somatizar doenças (muitas delas com sérias consequências para nossa saúde).
            Durante a terapia, o analisando é convidado a explorar com o terapeuta, os seus sentimentos, pensamentos e fantasias de forma a compreender o seu sofrimento. Agindo dessa forma (em análise) o objetivo é que a pessoa possa obter uma melhora em sua vida, se realizar pessoalmente, consequentemente ter uma vida mais prazerosa e significativa.
Diferentemente da psicanálise, Jung aboliu o divã porque achava necessário um confronto direto e pessoal, olho no olho. Permitindo dessa maneira uma maior interação e acolhimento junto ao paciente. O analista Junguiano, também trabalha com outras técnicas projetivas, como “análise de desenhos”, “análise de expressões artísticas que o paciente traga para a sessão”, e principalmente “análise de sonhos”.
A análise dos sonhos na terapia, é uma ferramenta de muita importância, pois com ela acessamos o inconsciente de forma direta, sem intermediários. O sonho é uma produção de nosso psiquismo inconsciente, eles apresentam uma verdadeira riqueza de possibilidades criativas do inconsciente, das quais podemos nos conscientizar quando aprendemos a entendê-los e relacioná-los com a nossa vida. Todas as noites eles nos trazem informações a respeito da nossa interioridade, sempre em contato com a realidade que nos circunda, superando os estreitos limites da nossa vida consciente.
Jung definia o sonho em termos genéricos como “um auto-retrato espontâneo”, em forma simbólica, da real situação no inconsciente. Ele via a relação do sonho com a consciência basicamente como uma relação compensatória.
Muitos pacientes até se assustam quando em análise eles começam a entender, a compreender melhor os seus sonhos, as “mensagens criativas” do inconsciente que estão sendo comunicadas, transformando significativamente a vida das pessoas para melhor.
Nossa vida inconsciente pulsa, quer se fazer consciente, para que quanto mais alinhado EGO e SELF, mais a pessoa possa individuar-se, mais ela terá condições de descobrir-se, e de se realizar como pessoa. Também de muita relevância , será a pessoa poder descobrir por exemplo o motivo de tantas escolhas equivocadas, de sua dificuldade em se relacionar (seja profissionalmente ou amorosamente), ou ainda de entender o motivo de sua depressão ou ansiedade sempre muito exacerbada. Na análise, a pessoa vai se conhecendo cada vez mais, vai entendendo de forma cada vez mais clara como tem conduzido a sua vida até aquele momento, para onde ela está indo em detrimento de onde ela deveria caminhar. Quando mudamos a pergunta do “Por que isso em minha vida”, para “Para que isso em minha vida”, começamos a compreender melhor a nós mesmo.
O processo de individuação (não confundir com tornar-se individualista, pois não tem nada a ver com individualismo, muito pelo contrário, individuar-se é tornar-se uma pessoa única, quem de fato você realmente é) é o caminho do equilíbrio psíquico, realização e crescimento de todo ser humano. Auxiliar e amparar este processo é o objetivo maior da psicoterapia junguiana. Pois dessa forma, a pessoa terá mais saúde mental, reunirá mais condições de lidar com os reveses da vida. Inclusive saberemos lidar melhor com o sucesso (muitas pessoas não sabem lidar com o sucesso, se boicotando).
Todos nós queremos ser felizes, realizados, ter uma vida mais plena de significados. Para isso nada melhor do que nos conscientizarmos e nos capacitarmos para melhor poder compreender os conteúdos que habitam em nosso inconsciente. É justamente isso o que propõe a análise junguiana. Uma análise séria, com respeito ao paciente (o analista não deve julgar seu paciente, deve prestar muita atenção a sua contra-transferência), com ética e sigilo, certamente pode auxiliar as pessoas nesse processo, a entrarem em contato com o seu “curador interno”, com o seu verdadeiro EU. Dessa forma, irá ajudar a pessoa a superar suas dificuldades frente a vida e frente a sí mesmo (podemos nos tornar nosso principal inimigo).
Jung dizia: “Conhecer a sua própria escuridão, é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”.




segunda-feira, 21 de julho de 2014

ESCOLHAS

           
          Uma vez o filósofo Jean Paul Satre disse: “Viver é isto: ficar se equilibrando, o tempo todo, entre escolhas e consequências”.
Realmente, todos os dias fazemos escolhas, sejam elas do nosso dia-a-dia como o que vestir, o que comer e beber, onde ir, com quem ir etc. Bem como fazemos escolhas que não necessáriamente nos damos conta, como por exemplo, “por que escolhi esse caminho e não aquele outro”, “mais uma vez escolhi a pessoa errada”, “por que será que sempre estou escolhendo errado, tomando decisões equivocadas e com isso me prejudicando” ou ainda quando repetimos escolhas até certo ponto conscientes: “não entendo o motivo de ter escolhido vir até esse lugar sendo que eu já sabia que iria me fazer muito mal”, “por que ainda insisto em procurar tal pessoa sabendo que ela vai me fazer mal” etc.
            Inclusive, impulsos ou ideias incompatíveis podem existir simultaneamente sem parecer contraditórios. Aceitamos que amor e ódio se expressem ao mesmo tempo, sem que haja discordância. Queremos algo e ao mesmo tempo a rejeitamos e não sabemos explicar o motivo de agimos dessa maneira. Tudo isso acontece por conta do “estranho que vive em nós”, a instância chamada inconsciente, esse “conhecido/desconhecido” de todos nós.
            Nosso inconsciente é compensatório, está sempre buscando o equilíbrio, da mesma maneira que nosso corpo procura a homeostase. Dessa forma, se estamos constantemente ignorando algo em nossa vida, ele (inconsciente) vai providenciar uma “saia justa”, para que dessa forma possamos refletir como venho  conduzindo minha vida. Sendo assim, uma das maneiras que nosso inconsciente encontra para “chamar nossa atenção”, para que possamos refletir e prestar atenção no que é relevante para a nossa vida (além de nossas escolhas), mas que não estamos dando a devida atenção, são também alguns atos falhos (quando por exemplo trocamos nomes), lapsos de memória (esquecemos nomes ou o que pretendíamos dizer), vão na mesma direção, o que está por trás desse equívoco?
            Muitos de meus pacientes me procuram dizendo que tem o “dedo podre”, e por conta disso tentam compreender o que motivou sua escolha equivocada. Talvez a melhor maneira de refletir seria o “Para que?” “Qual a finalidade dessa escolha na minha vida” e não o “Por que?”. Somente através da análise do inconsciente profundo é que podemos chegar ao verdadeiro motivo de nossas escolhas. Dessa forma fica claro para o paciente o que “habita” em seu inconsciente, que se não for dado a devida atenção, ou não for ressignificado alguns aspectos inconscientes, a pessoa vai continuar sofrendo com as consequências de suas escolhas equivocadas. Essas “escolhas equivocadas” não passariam de sintomas como consequência de complexos não resolvidos, de vivências traumáticas não elaboradas e por isso mesmo não ressignificadas, de uma negação de seus reais desejos, pelo simples fato de não conseguir sustentar o seu desejo ou se importando muito com o que os outros pensam e dessa forma não vivendo, experenciando o que realmente é importante para a vida dela mesma, vivendo dessa forma “uma vida não vivida”.
            Toda vez que deixarmos de ser quem realmente somos (Self), de viver nosso verdadeiro projeto de vida (individuação) etc, com certeza sofreremos. Nosso inconsciente irá cobrar um preço, irá através de simbolismos tentar reestabelecer o equilíbrio em nossa vida. E se ainda assim, recusarmos dar a devida atenção para nossos conteúdos inconscientes, podemos adoecer de diversas formas, como neuroses e até mesmo psicoses, além de várias formas de somatizar, o que antes era “apenas um sintoma”, se transforma em uma doença orgânica (por exemplo diabetes) e não raro, em doenças orgânicas fatais (câncer etc).
            Querido leitor, você presta atenção em suas escolhas? Como vem conduzindo a sua vida? Por que não consegue simplesmente parar de fazer as mesmas escolhas que você sabe que irá te prejudicar?
           
 







Como é fazer Terapia?

Como é fazer terapia? Você já se interessou ou se interessa em fazer? Vale a pena ficar ligado nesse vídeo!!!